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Aqui você terá oportunidade de conhecer um projeto que aborda a questão do uso de drogas, tendo a prevenção como elemento principal da sua ação.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Mantenha-se informado: O que são os CAPS?

CAPS


Seu objetivo é oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), entre todos os dispositivos de atenção à saúde mental, têm valor estratégico para a Reforma Psiquiátrica Brasileira. Com a criação desses centros, possibilita-se a organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no país. Os CAPS são serviços de saúde municipais, abertos, comunitários que oferecem atendimento diário.

É função dos CAPS:

- prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando as internações em hospitais psiquiátricos;

- acolher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território;
- promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais;
- regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação;
- dar suporte a atenção à saúde mental na rede básica;
- organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios;
- articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado território
- promover a reinserção social do indivíduo através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Estes serviços devem ser substitutivos e não complementares ao hospital psiquiátrico. De fato, o CAPS é o núcleo de uma nova clínica, produtora de autonomia, que convida o usuário à responsabilização e ao protagonismo em toda a trajetória do seu tratamento.

Os projetos desses serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em busca da rede de suporte social, potencializadora de suas ações, preocupando-se com o sujeito e a singularidade, sua história, sua cultura e sua vida cotidiana.

O perfil populacional dos municípios é sem dúvida um dos principais critérios para o planejamento da rede de atenção à saúde mental nas cidades, e para a implantação de centros de Atenção Psicossocial. O critério populacional, no entanto, deve ser compreendido apenas como um orientador para o planejamento das ações de saúde. De fato, é o gestor local, articulado com as outras instâncias de gestão do SUS, que terá as condições mais adequadas para definir os equipamentos que melhor respondem às demandas de saúde mental de seu município.

disque saúde 0800 61 1997
Ministério da Saúde
Esplanada dos Ministérios - Bloco G - Brasilia / DF
CEP: 70058-900
O crack: como lidar com este grave problema (I)

Texto produzido pela Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde

Breve panorama do crack

O panorama mundial da difusão do uso do cloridrato de cocaína (pó) por aspiração intranasal esteve associado, a partir da década de 60, à falta de algumas drogas no mercado, como a anfetamina e a maconha, devido às ações repressivas. Contudo, o alto preço do produto levou usuários de drogas à descoberta de outras formas de uso com efeitos mais intensos, apesar de menor duração. Desse cenário, no início de 1980, aparecem novas drogas obtidas a partir da mistura de cloridrato de cocaína com ingredientes cada vez mais incertos e tóxicos. Tempos depois, surge o uso do crack, outra forma fumável de cocaína, disseminando-se no Brasil, oficialmente a partir de 1989, alastrando-se atualmente, em vários segmentos sociais de gênero, sexo, idade e classe social.

Na produção de crack não há o processo de purificação final. O cloridrato de cocaína é dissolvido em água e adicionado em bicarbonato de sódio. Essa mistura é aquecida e, quando seca, adquire a forma de pedras duras e fumáveis. Além dos alcalóides de cocaína e bicarbonato de sódio, essas pedras contêm as sobras de todos os ingredientes que já haviam sido adicionados anteriormente durante o refino da cocaína. As pedras de crack são vendidas já prontas para serem fumadas. Sua composição conta com uma quantidade imprecisa de cocaína, suficiente para que possa produzir efeitos fortes e intensos. Além disso, para obter a produção final do crack são misturadas à cocaína diversas substâncias tóxicas como gasolina, querosene e até água de bateria.

O uso disseminado do crack no mundo das drogas está relacionado a vários fatores que levaram a uma grave transformação, tanto na oferta quanto na procura. De um lado, o controle mundial repressivo sobre os insumos químicos necessários a sua produção – como éter e acetona – leva os produtores a baratear cada vez mais sua fabricação, com a utilização indiscriminada de outros ingredientes altamente impuros. Quanto mais barata sua produção, mais rentável é sua venda. Por outro lado, o crack representa para a população usuária de drogas um tipo de cocaína acessível, pois vendido em pequenas unidades baratas, oferece efeitos rápidos e intensos. Entretanto, a desejada intoxicação cocaínica proporcionada pelo crack provoca efeitos de pouca duração, o que leva o usuário a fumar imediatamente outra pedra. Esse ciclo ininterrupto de uso potencializa os prejuízos à saúde física, as possibilidades de dependência e os danos sociais. A inovação no mercado das drogas com a entrada do crack atraiu pequenos traficantes, agravou ainda mais a situação, com o aumento incontrolável de produções caseiras, se diferenciando conforme a região do país.

À cocaína é misturada uma variedade incerta de reagentes químicos em sua preparação. O desconhecimento quanto a sua composição pode dificultar, muitas vezes, as intervenções emergenciais de cuidados à saúde nos casos de intoxicação aguda sofrida por alguns usuários. Tais condições, porém, não impossibilitam o desenvolvimento de ações voltadas à saúde e ao bem-estar social da referida população

Formas de uso e seus efeitos

O crack é fumado por ser uma forma mais rápida (e barata) de a droga chegar ao cérebro e produzir seus efeitos. A pedra é quebrada e fumada de diversas maneiras e em diferentes recipientes: enrolada no cigarro de tabaco ou misturada na maconha – forma que parece amenizar psiquicamente os efeitos maléficos da droga, como o sentimento de perseguição, a agitação motora e posteriormente a depressão. É também fumado em cachimbos improvisados feitos em tubos de PVC ou em latas de alumínio muitas vezes coletados na rua ou no lixo, apresentando possibilidades de contaminação infecciosa. O uso de latas favorece a aspiração de grande quantidade de fumaça pelo bocal, promovendo intoxicação pulmonar muito intensa.

São vários os tipos de danos causados pelo uso de crack. Além dos problemas respiratórios pela inspiração de partículas sólidas, sua ação estimulante leva à perda de apetite, falta de sono e agitação motora e, a dificuldade de ingestão de alimentos pode levar à desnutrição, desidratação e gastrite. Podem ser ainda observados sintomas físicos como rachadura nos lábios pela falta de ingestão de água e de salivação, cortes e queimaduras nos dedos das mãos e às vezes no nariz, provocados pelo ato de quebrar e acender a pedra, além de ficar o usuário mais exposto ao risco social e de doenças.

Gestores de saúde mental relatam aumento no consumo de crack em regiões que não apresentavam consumo significativo da droga, em especial no nordeste e nas cidades fora dos grandes centros urbanos. O aumento parece estar relacionado com o baixo custo e as características dos efeitos procurados, embora sejam necessários estudos e pesquisa sobre a influência desses ou outros fatores.

Atenção integral em saúde e saúde mental aos usuários de crack

Como todo uso de drogas está associado a fatores biopsicossociais, o consumo de crack não é diferente. Além dos problemas físicos já descritos, há os de ordem psicológica, social e legal. Ocorrem graves perdas nos vínculos familiares, nos espaços relacionais, nos estudos e no trabalho, bem como a troca de sexo por drogas e, ainda, podendo chegar à realização de pequenos delitos para a aquisição da droga. Há controvérsia se tais condutas socialmente desaprovadas têm relação com o estado de “fissura” para usar ou se resulta da própria intoxicação. A unanimidade é que o usuário desemboca numa grave e complexa exclusão social.

As abordagens ao usuário de crack exigem criatividade, paciência e respeito aos seus direitos, enquanto cidadão, para superar seu estado de vulnerabilidade, riscos, estigma e marginalização. Estratégias preventivas podem ser levantadas não somente entre esse novo grupo, como também dirigidas àqueles usuários que, por algum motivo, ainda não se aventuraram nesse tipo de droga. O atendimento ao dependente de crack deve considerar alguns importantes critérios:

1. O usuário que não procura tratamento: a ele devem ser dirigidas estratégias de cuidados à saúde, de redução de danos e de riscos sociais e à saúde. As ações devem ser oferecidas e articuladas por uma rede pública de serviços de saúde e de ações sociais e devem ser feitas por equipes itinerantes, como os consultórios de rua, que busquem ativamente ampliar o acesso aos cuidados em saúde e em saúde mental destes usuários. A perspectiva dessa abordagem objetiva os cuidados da saúde como também as possibilidades de inserção social.

2. A porta de entrada na rede de atenção em saúde deve ser a Estratégia de Saúde Família e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Estes serviços especializados devem ser os organizadores das demandas de saúde mental no território. Os CAPS devem dar apoio especializado às ESF, fazer articulações intersetoriais (educação, assistência social, justiça, cultura, entre outros) e encaminhar e acompanhar os usuários à internação em hospitais gerais, quando necessário.

3. Quando o usuário acessa as equipes de saúde e de saúde mental, é necessária uma avaliação clínica das suas condições de saúde física e mental, para a definição das intervenções terapêuticas que devem ser desenvolvidas. É importante que se faça uma avaliação de risco pelas equipes de saúde para se definir se é necessária ou não a internação.

4. A internação deve ser de curta duração, em hospital geral da rede pública, com vistas à desintoxicação associada aos cuidados emergenciais das complicações orgânicas e/ou à presença de algum tipo de co-morbidade desenvolvida com o uso. É concebível e muito comum que usuários de crack, ainda que num padrão de uso preocupante, resistam à internação e optem pela desintoxicação e cuidados clínicos em regime aberto, acompanhado nos CAPSad por uma equipe interdisciplinar, nos níveis de atendimento intensivo, semi-intensivo e até o não intensivo. Nesse caso, a boa evolução clínica, psíquica e social dependerá da articulação inter e intrasetorial das redes de apoio, inclusive e se possível, com mobilização familiar.

5. A decisão pela internação deve ser compreendida como parte do tratamento, atrelada a um projeto terapêutico individual e, assim como a alta hospitalar e o pós-alta, deve ser de natureza interdisciplinar. Intervenções e procedimentos isolados mostram-se ineficazes, com pouca adesão e curta duração, além de favorecer o descrédito e desalento da família e mais estigma ao usuário.

Estratégias de intervenção e cuidados da rede de saúde:

a.Avaliação interdisciplinar para cuidados clínicos (e psiquiátricos, se necessário)
b.Construção de Projeto Terapêutico Individual, articulado inter e intrasetorialmente
c.Atenção básica (via ESF e NASF, com participação de profissionais de AD)
d.CAPSad – acolhimento nos níveis intensivo, semi-intensivo até não intensivo
e.Leitos em hospital geral
f.Consultórios de rua, casas de passagem
g.Estratégias de redução de danos
h.Articulação com outras Políticas Públicas: Ação Social, Educação, Trabalho, Justiça, Esporte, Direitos Humanos, Moradia.
a.

Referências bibliográficas de consulta:
1. Domanico, A. & MacRae, E. Estratégias de Redução de Danos entre Usuários de Crack. In: Silveira, D. X. & Moreira, F. G. Panorama Atual de Drogas e Dependências. São Paulo: Ed. Atheneu, 2006.
2. Silveira, DX, Labigalini E. e Rodrigues, LR Redução de danos no uso de maconha por dependentes de crack. In: SOS crack prevenção e tratamento. Governo do Estado de São Paulo, 1998.
3. Andrade, AG, Leite, MC e col. Cocaína e crack: dos fundamentos ao tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
4. Governo de São Paulo. SOS crack: prevenção e tratamento, diretrizes e resumos de trabalhos, 1999.
5. Silva, SL. Mulheres da luz: uma etnografia dos usos e da preservação no uso do crack. 2000.


15.dezembro.2009

Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool & Outras Drogas

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Olha o comentário do Ministério da Saúde ao nosso trabalho. Isto é muito interessante.

Ministério da saúde disse...
Olá blogueiro (a),
Salvar vidas por meio da palavra. Isso é possível. Obrigado por seu apoio na luta contra o crack e outras drogas. O consumo aumentou e é preciso união de todos. O crack traz malefícios ao usuário, família e sociedade e atinge a todos independentemente do sexo, cor e classe social.
Divulgue mais informações sobre a droga: http://bit.ly/bDGqGz
Conheça os CAPS que estão espalhados em vários lugares do país para prestar auxílio aos dependentes: http://migre.me/2qkFl
Siga-nos no Twitter: www.twitter.com/minsaude
Mais informações: comunicacao@saude.gov.br
Obrigado,
Ministério da Saúde

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Universidades são estratégicas no combate ao crack

Presidente da República quer formar centros de excelência no enfrentamento do problema nas instituições federais

Os investimentos feitos pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas universidades federais e, em especial, no corpo docente foram apontados ontem (17) pela presidente Dilma Rousseff como fundamentais para o enfrentamento ao crack. A avaliação foi feita na abertura do seminário sobre a implantação dos Centros Regionais de Referência em Crack e Outras Drogas. “Essa é uma substância que apresenta o desafio de não ter, no plano mundial, um acervo de conhecimento nem tratamento”, disse Dilma, dirigindo-se aos representantes de 46 instituições responsáveis pelos 49 projetos que capacitarão mais de 14 mil para atuar na área. A participação das instituições é necessária para os centros de referência, disse ela, que ressaltou a importância da capacitação de pessoal para a definição de políticas de reinserção.

[A notícia foi publicada nos principais jornais do País – 18/02/2011]

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Entidades e organizações que estudam/trabalham com drogas e álcool

  • Fonte: http://www.sead.ufsc.br/bibliotecas/upload/ec_p14_17_raiox3.pdf
    • Secretaria de Direitos Humanos
    • Observatório Nacional dos direitos da criança e do adolescente
    • Alcoólicos Anônimos - AA
    • Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - CEBRID
    • Centro de Informações sobre Saúde e Álcool - CISA
    • Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ
    • Instituto Nacional do Câncer - INCA
    • Ministério da Saúde
    • Ministério da Saúde - Centros de Atenção Psicossocial
    • Mundo Jovem
    • Narcóticos Anônimos - NA
    • Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas - OBID
    • Organização Pan-Americana da Saúde - OPAS
    • Pesquisas científicas
    • Portal do Governo Brasileiro - Conselhos
    • Portal Saúde do Adolescente
    • Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes - Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - PROAD
    • Programa Nacional de DST e AIDS
    • Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD
    • Lua Nova
    • CUFA - Central Única das Favelas
    • Grupo Cultural AfroReggae
    • ABRATECOM - Associação Brasileira de Terapia Comunitária
    • GRUPO CULTURAL OLODUM
    • Observatório da Cidade Educadora
    • Ministério da Educação
    • Segurança da Cidadania
    • Ministério da Saúde
    • Enfretamento ao crack
    • Observatório Baiano sobre Substâncias Psicoativas
    • Programa Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein
    • PRONASCI
    Carlinhos Brown
    • Programa Social da Mangueira

Fique atento

Fonte: http://www.sead.ufsc.br/bibliotecas/upload/ec_p18_19_perguntas.pdf

Pergunte ao especialista

10 dúvidas sobre o crack

1. O crack cria dependência desde a primeira experiência?
A dependência química envolve o patrimônio biológico de cada pessoa (herdado), as condições socioculturais nas quais ela nasce e se desenvolve e as condições ou patrimônio psíquico de cada um. Não considero apropriado dizer que alguém desenvolverá dependência química ao crack desde a primeira utilização.
Especialista - Antonio Nery filho é psiquiatra e coordenador do Centro de Estudos e Terapia do
Abuso de Drogas da Universidade Federal da Bahia.


2. Qual é o impacto do crack nos diversos setores da vida do usuário?
Em geral, os usuários de substâncias psicoativas legais e/ou ilegais são capazes de manter o consumo sob controle. O abuso é, seguramente, um sintoma e não uma causa. Costuma-se dizer no meio psicanalítico que “o sujeito faz a droga”. Isso quer dizer que o impacto de uma substância na vida do consumidor tem mais a ver com o próprio consumidor e seu contexto (condições de extrema miséria social e/ou sofrimento psíquico) do que com as propriedades da substância química. Antonio Nery Filho

3. O próprio usuário pode se ajudar para combater a dependência?
Considerando que a dependência química compromete a vontade, raramente se espera que o paciente busque espontaneamente tratamento, mesmo que reconheça os riscos e danos implicados em sua conduta. É fundamental a interferência (amorosa, cuidadosa, respeitosa) da família, de amigos, colegas e até da lei. Antonio Nery Filho

4. Como prevenir o uso entre os jovens?
Por mais que pareça que eles conhecem tudo sobre as drogas, é importante conversar sobre aonde podem chegar, sem fazer terrorismo. É preciso fornecer outros caminhos para aplacar aquilo que a droga proporciona: relaxamento, excitação, maior participação social, segurança. A idéia é conversar sobre perdas e ganhos, mostrar a droga como um remédio veneno (remédio porque proporciona prazer e sensação de preencher uma lacuna e veneno pelas consequências que traz).
Especialista Fátima Sudbrack é psicóloga e professora do Departamento de Psicologia clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Coordena o Programa de Estudos e Atenção às Dependências do mesmo departamento.

5. Qual o papel da família no tratamento?
Por trás dos usuários de crack existem famílias muito desamparadas e desenraizadas que passam por situações de vulnerabilidade. Um desafio no tratamento dos dependentes é compreender o abismo que se estabelece entre o usuário e a família. E aqui é importante ressaltar que alguns meios de comunicação contribuem para deixar essa relação ainda mais fragilizada quando transmitem a idéia de que o usuário de crack é um marginal. As famílias sofrem demasiadamente por falta de informação e por causa de mensagens sensacionalistas que não correspondem à realidade.
Especialisa: Auro Danny Lescher é psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo e Coordenador Geral do Projeto Quixote (SP)

6. Como reconhecer – em casa/no trabalho – um dependente?
Há vários sintomas que se instalam rapidamente: fragilidade física (emagrecimento), cansaço, sonolência, “noia”, a pessoa fica desconfiada, insegura e com síndrome de perseguição, dificuldade para manter a rotina (pois fica vulnerável ao consumo), alteração do sono, estresse físico e mental, inapetência. Fátima Sudbrack

7. O consumo de crack por gestantes dificulta o parto?
No momento do parto, o uso de crack foi associado a maiores taxas de contratilidade uterina anormal, descolamento prematuro de placenta e hipertensão (préeclâmpsia). A gestante usuária ainda pode ter risco aumentado para desenvolver acidentes vasculares. Geralmente o uso de crack não ocorre de forma isolada e até o momento não se sabe ao certo quanto desses efeitos pode ser atribuído a essa droga e quanto está associado a outros fatores de risco como doenças infecciosas, doenças psiquiátricas, uso de outras drogas lícitas e ilícitas, ausência de pré-natal, exposição à violência e à pobreza.
Especialista: Gabrielle Bochese da Cunha é Neonatologista e coordenadora das pesquisas mães-bebês – ações integradas e do programa de atendimento a bebês expostos do hospital materno infantil Presidente Vargas de Porto Alegre.

8. O bebê de uma usuária nasce com algum tipo de dependência?
Não, o bebê não é dependente e a abstinência ao crack ou à cocaína não está cientificamente comprovada (ao contrário do que ocorre com o cigarro e os opiáceos). O bebê apresenta efeitos relacionados a alterações nos neurotransmissores, que poderão ser temporários ou duradouros (irritabilidade, dificuldades de consolo e motoras). Essas alterações poderão ser minimizadas ou potencializadas conforme o atendimento e os cuidados que essa criança recebe durante os primeiros anos de vida.
Gabrielle Bochese da Cunha

9. O que fazer para ajudar o usuário?
A família e a escola devem acolher o jovem. A primeira diretriz da escola é não excluir o aluno, seja qual for o envolvimento que tiver com a droga. A família deve assumir seu lugar com autoridade, dando limites. É um contexto paradoxal de risco e proteção. Ambos precisam ser ajudados. O grande desafio é que o dependente não procura ajuda sozinho. Ele expressa o sofrimento e a necessidade de ajuda com o próprio uso da droga. É preciso uma aproximação cuidadosa para que ele possa expressar o que o levou a buscar a droga. Fátima Sudbrack

10. O uso de crack deixa alguma seqüela para o desenvolvimento físico e mental de um adolescente?
O crack altera o autocontrole, que já não é estável na adolescência. Além disso, provoca uma confusão dos neurônios que altera o sistema hormonal e desencadeia um quadro psicótico com síndrome de perseguição e agressividade. O cérebro deixa de aprender e desenvolver uma série de habilidades e desenvolve a patologia. Quanto mais cedo são feitos o diagnóstico e a intervenção, mais rápido se consegue reverter o quadro. Os adolescentes respondem rapidamente aos tratamentos multidisciplinares.
Especialista: Sandra Scivoletto é psiquiatra e professora de psiquiatria da infância e adolescência do Departamento e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas/ Faculdade de Medicina da USP.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

CE: Mais de 400 mil jovens estão em famílias de baixa renda

Mais de 45% da população de baixa renda no estado são famílias com crianças e adolescentes.

São as crianças que mais sofrem com a pobreza no Ceará. Pesquisa do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) mostra que nada menos que 17,9% dos jovens de zero a 14 anos no estado estão na situação de extrema pobreza. São 416,5 mil pequenos cidadãos que estão com o futuro em xeque. Da população total que vive em extrema pobreza no Ceará, 45,83% são exatamente essas crianças. Logo depois vem a faixa imediatamente mais velha, de 15 a 24 anos, que representa 10,21% do total de habitantes nessa faixa etária. "Cabe às autoridades, ao governador, escolher se salva ou não toda uma geração que está fadada a repetir os próprios pais, que não tiveram oportunidade de galgar um futuro melhor, que não puderam avançar no campo da escolaridade", comenta o coordenador do LEP, Flávio Ataliba.

[Diário do Nordeste (CE), Gustavo de Negreiros – 01/02/2011]